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MMX terá de pagar dívida, vender ativos e dar solução para as minas

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Depois de receber, na quarta-feira, a autorização da Justiça de Minas Gerais para dar início a um processo de recuperação judicial, a mineradora MMX, de Eike Batista, trabalha na estratégia a ser implementada nos próximos meses para reestruturar a companhia. Em 60 dias, a empresa terá de apresentar um plano de recuperação a ser aprovado pelos credores. No processo, a MMX reconheceu dívidas totais de R$ 438 milhões, segundo apurou o Valor. Esse número poderá mudar, porém, com eventuais contestações dos fornecedores.

O caminho a ser trilhado pela MMX dentro da recuperação judicial vem sendo discutido pela atual administração da companhia, agora sob o comando de Ricardo Werneck, o novo presidente da mineradora, em parceria com a Angra Partners. A Angra teve papel ativo na recuperação judicial da OXG (atual OGpar), a petroleira de Eike, e também está envolvida no processo de recuperação da OSX, a empresa de estaleiros do grupo.

Werneck disse que a MMX terá de enfrentar três grandes questões: a dívida, os problemas de operação nas minas da companhia na Serra Azul, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), e a gestão de ativos, vários dos quais devem passar por um processo de venda como forma de a companhia gerar receita uma vez que as minas estão paradas. Ainda é cedo para dizer se o dinheiro da venda de ativos será suficiente para pagar a dívida inserida na recuperação.

Mineiro de Belo Horizonte, filho de metalúrgico que trabalhou na Belgo-Mineira, Werneck conhece bem a MMX. Participou dos primórdios da companhia, em 2005, saiu e voltou. Com a renúncia do ex-presidente Carlos Gonzalez, Werneck, que já era diretor, assumiu o cargo e passou a acumular as áreas financeira, comercial e de relações com investidores. O executivo dirige uma estrutura enxuta, com 175 funcionários, entre áreas de administração e operação. A MMX tem dois escritórios nos quais trabalham 40 pessoas: um deles é "espartano", nada que lembre os tempos do auge do Império X, e fica em Botafogo, zona sul do Rio. O outro escritório está em Belo Horizonte. A maior parte dos empregados, porém, trabalha em atividades de manutenção das minas, que requerem cuidados 24 horas por dia, sete dias por semana.

Werneck afirmou que os salários da empresa estão em dia e as rescisões trabalhistas vêm sendo feitas e pagas. A dívida trabalhista que existe na recuperação judicial refere-se a execuções de ações feitas por empregados de empresas terceirizadas. Essa dívida trabalhista é de R$ 3 milhões. Werneck não quis comentar os números da dívida contidos no processo, nem falar sobre os credores. O Valor apurou, no entanto, que a dívida de R$ 438 milhões refere-se a investimentos feitos pela MMX Sudeste, a empresa em recuperação judicial, no projeto de expansão da mineradora, o qual não chegou a ser implementado. Também há débitos referentes à operação. Os débitos com fornecedores se referem à compra de equipamentos e contratação de serviços, como terraplenagem. Há dois grandes credores na parte de serviços: ARG e Fidens, com as quais a MMX havia feito acordo para pagamento de dívida de R$ 166 milhões. Outros credores importantes são Rio Bravo, GVA, a própria MMX S.A., a holding que controla a MMX Sudeste, MultiRio e CFAR. No total, a lista de credores tem mais de 300 nomes.

Werneck disse que a proposta a ser feita aos credores, no plano de recuperação judicial, ainda não está definida e deverá considerar várias possibilidades. "Nada neste momento está descartado", afirmou. Como ocorre em outros processos de recuperação, o plano da MMX poderá prever parcelamento das dívidas, descontos ou mesmo transformação de parte do débito em capital da empresa.

O executivo disse que a MMX tem diversos ativos, os quais poderão ser alvo de vendas. Entre esses ativos, o mais valioso é a participação de 35% que a holding MMX S.A. tem no porto Sudeste, controlado oficialmente, desde 26 de fevereiro, por consórcio formado por Trafigura e Mubadala. O executivo evitou comentar informações de mercado segundo as quais a MMX está em processo de venda dos 35% que ainda tem no porto Sudeste para o consórcio controlador. Disse somente que o porto é um ativo valioso e que, além dele, a empresa conta com outros bens, como as minas em Corumbá (MS), em processo de arrendamento por três anos para a Vetria, contrato que inclui opção de compra-venda. E terminais para embarque de minério de ferro na região da Serra Azul.

O executivo também afirmou que a volta à operação das minas de Tico-Tico e Ipê da MMX, na Serra Azul, depende de alguns fatores, como a obtenção de licença junto ao órgão ambiental do Estado de Minas Gerais; a melhoria da situação de mercado do minério de ferro, cujos preços caíram 40% este ano, e de investimentos no projeto de expansão. Para fazer a expansão, a MMX precisará de dinheiro novo, possivelmente de novo sócio. A empresa, cuja capacidade de produção em Minas Gerais situa-se na faixa de 6 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, chegou a apresentar um plano de expansão para 29 milhões de toneladas, depois reformulado para 15 milhões, mas nada saiu do papel.

Na visão do mercado, depois que se reestruturar, a MMX só conseguirá tornar a expansão realidade se um sócio investir na companhia. Hoje, Eike tem 57% da empresa, mas a MMX já comunicou que o empresário está transferindo 10% de sua participação para Mubadala, o que vai reduzir sua fatia. Ao fim do processo de reestruturação, Eike poderá tornar-se sócio minoritário nos negócios da mineradora que fundou.

Autor(a)
Francisco Góes

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