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Cultura burocrática da GM irrita o impaciente Edward Whitacre

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Recentemente, numa sexta-feira, o diretor-presidente da General Motors Co. sentou-se com alguns de seus principais assessores no centro de tecnologia da empresa, nos arredores de Detroit, e foi solicitado a aprovar os planos para uma nova geração de carros de passeio e utilitários.

Mas antes que os executivos apresentassem as imagens, gráficos e projeções financeiras que tinham preparado, Edward E. Whitacre Jr. perguntou por que eles tinham convocado a reunião. "Vocês todos já estudaram tudo isso cuidadosamente", disse Whitacre em seu sotaque arrastado do Texas, segundo um participante.

"Imagino que vocês não vão aprovar alguma coisa que seja ruim ou deficitária. Assim, por que vocês mesmos não tomam as decisões finais?"

Whitacre então deixou os planos da equipe como estavam - e sugeriu que o grupo terminasse suas reuniões normais das sextas-feiras.

Delegar a autoridade e a tomada de decisões para uma camada inferior na hierarquia da GM e cortar a burocracia são pontos importantes na mudança que Whitacre está tentando trazer para a montadora. Recrutado pelo governo Barack Obama para recuperar a montadora durante a recuperação judicial dela, que foi financiada pela Casa Branca no ano passado, o ex-diretor-presidente da AT&T Inc. enfrenta uma tarefa difícil.

Ontem, a GM divulgou prejuízo de US$ 4,3 bilhões no segundo semestre de 2009, quando enfrentou vendas fracas nos Estados Unidos e começou a pagar os empréstimos do governo.

O diretor financeiro Chris Liddell disse que a GM ainda tem boas chances de dar lucro em 2010, se melhorar o desempenho nas vendas e reduzir ainda mais os custos. "Não quero fazer uma previsão de lucros aqui e depois decepcionar", disse. "Mas nada que vi no primeiro trimestre muda a minha opinião de que podemos ser lucrativos."

Os resultados são os primeiros números oficiais de balanço da GM desde que a empresa saiu da concordata, em julho. Não são resultados comparáveis com os dos anos anteriores.

Eles incluem um prejuízo de US$ 3,4 bilhões no quarto trimestre e de US$ 900 milhões no período de 10 de julho a 31 de setembro. Anteriormente, a GM havia divulgado um prejuízo de US$ 1,2 bilhão nesse período.

A montadora tinha US$ 136 bilhões em ativos no fim de 2009. A antiga GM tinha US$ 91 bilhões em ativos no fim de 2008. A empresa utilizou US$ 1,9 bilhão em caixa para suas operações no quarto trimestre.

Os números mostram o desafio que a agora encolhida GM enfrenta para aumentar as receitas, depois de se desfazer de marcas, modelos e concessionárias.
A receita da GM no quarto trimestre foi de US$ 32,3 bilhões; um ano antes a chamada "Velha GM" teve US$ 30,8 bilhões em receitas.

Analistas acreditam que o desempenho da montadora melhorou no primeiro trimestre deste ano, graças ao aumento das vendas, maior produção e um balanço patrimonial limpado durante a recuperação judicial. Ainda assim, ela não parece ter avançado tanto em sua reestruturação quando a rival Ford Motor Co., que fechou 2009 no azul, tem registrado maior crescimento das vendas nos EUA que a GM e deve anunciar um lucro substancial em 2010.

Além disso, como o governo americano investiu cerca de US$ 50 bilhões na GM e agora tem 60% da companhia, Whitacre tem de em algum momento fazer uma oferta pública de ações para fazer que o investimento renda.

Desde que assumiu a presidência executiva da GM, em junho passado, sem ter quase nenhuma experiência na indústria automobilística, Whitacre, de 68 anos, vem se concentrando em uma área na qual acredita que possa dar uma grande contribuição: mudar a cultura morosa e burocrática da empresa.

No passado, até mesmo pequenas decisões tinham de ser examinadas por comissão.

Certa vez, há vários anos, a empresa tentou eliminar a burocracia - e acabou nomeando uma comissão para supervisionar quantas reuniões deveriam ser realizadas.
Whitacre está tentando delegar poderes aos diretores para que administrem as respectivas divisões da empresa, embora isso às vezes possa causar confusão.

Em dezembro, Whitacre nomeou um novo diretor de operações para a América do Norte, Mark Reuss, um engenheiro que estava na direção da subsidiária australiana. Ele recebeu ordens de aumentar a participação de mercado da GM sem oferecer descontos onerosos. Uma subordinada de Reuss era Susan Docherty, executiva vinda da divisão Buick que ficou encarregada das vendas e marketing.

Menos de três meses depois, Reuss procurou Whitacre dizendo que precisava ter um papel mais direto na América do Norte, de modo que mudaram novamente as responsabilidades, e Reuss tirou de Docherty a responsabilidade pelas vendas. "Ele queria escolher sua própria equipe, e Ed [Whitacre] lhe deu apoio", disse um executivo de alto escalão.

Executivos da GM disseram que essa decisão e outras mudanças administrativas feitas por Whitacre deixaram muitas pessoas inseguras quanto aos seus empregos.

"Aqui há um forte senso de urgência e responsabilidade nos escalões mais altos", disse Liddel, o diretor financeiro, falando recentemente com jornalistas.

"Aqui há gente boa. Elas precisam receber responsabilidades e poder de decisão."

Uma das maneiras com que Whitacre está sinalizando um novo estilo na GM é fazer-se muito mais visível e acessível do que seus antecessores Frederick Henderson e Rick Wagoner, que passavam muito tempo nas salas da diretoria no 39º andar da sede da GM em Detroit.

Desde que Whitacre assumiu a presidência executiva, em dezembro, ele encontrou tempo para percorrer os escritórios.

Os funcionários da GM falam de frequentes "aparições de Ed" pelos corredores e no refeitório da empresa.

Whitacre também tem aparecido em fábricas da GM para visitar os operários da linha de montagem. No mês passado, Mike Green, presidente da regional do sindicato United Auto Workers em Lansing, Michigan, recebeu um telefonema da fábrica dizendo que Whitacre tinha aparecido inesperadamente.

Green correu até lá e encontrou o diretor-presidente, de jeans e camiseta, conversando com os operários.

"Quando ele fala com você, parece interessado na conversa.

Basicamente, ele se importa com o que você está dizendo", disse Green.

 

Autor: Sharon Terlep, do Wall Sreet Journal

Fonte: www.valoronline.com.br (08/04/2010)

 

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