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Grupo Heber, da família Bertin, vai à Justiça com dívidas de R$ 8 bi

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Após uma série de investimentos mal sucedidos, o conglomerado Heber, controlado pela família Bertin, recorreu à Justiça para reestruturar R$ 7,86 bilhões em dívidas. Foi protocolado na madrugada de ontem um pedido de recuperação judicial que envolve dez empresas, dentre elas a construtora Contern; a concessionária dos trechos Sul e Leste do Rodoanel de São Paulo, SPMar; e a empresa de saneamento do grupo, Águas de Itu. A família ainda tem outras companhias que ficaram de fora da recuperação judicial.

A gravidade da crise financeira do grupo Heber já era conhecida no mercado, sendo clara a necessidade de reestruturação dos compromissos. A opção de recorrer a uma recuperação judicial, no entanto, teve como gatilho o pedido de falência da construtora feito em julho pelo Banco Fibra. Se a ação caminhasse, havia o risco de outras empresas do grupo serem puxadas para o processo.

Segundo a leitura de pessoas próximas ao grupo, o "calcanhar de Aquiles" é que, diferentemente de outras companhias que estão com problemas financeiros, a família não tem um "ativo-âncora" suficientemente líquido para dar em garantia aos bancos, o que pode ter sido decisivo na opção pelo pedido de recuperação judicial. Os bancos, aliás, fecharam a torneira do crédito para o grupo após a fracassada incursão no setor elétrico, que aumentou o ceticismo em relação à companhia.

A dívida é predominantemente financeira, sendo a Caixa Econômica Federal (CEF) o maior credor, com cerca de R$ 2,5 bilhões. A lista de credores ainda engloba o Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Bradesco e Banco Votorantim.

Também pesaram na decisão investimentos frustrados feitos pelo grupo nas áreas de rodovia e saneamento. O grupo Heber administra, por meio da SPMar, mais de 75% do Rodoanel Mário Covas. A empresa aponta na petição diversos problemas encontrados neste projeto, como inadequações no pavimento do trecho Sul, exigindo aportes de recursos não previstos inicialmente, e supressão de duas praças de pedágios previstas no edital de licitação, com impacto sobre a receita prevista no plano de negócios. Cenário agravado pela crise econômica que derrubou o tráfego das rodovias. A concessionária tem pedidos de reequilíbrio econômico-financeiro do contrato em um montante total aproximado de R$ 2 bilhões.

Em saneamento, a Águas de Itu perdeu a sua única concessão, de abastecimento hídrico e coleta e tratamento de esgoto da cidade. As dificuldades começaram principalmente com a crise hídrica no Sudeste em 2014. A receita da empresa, então, caiu à metade, enquanto os custos subiram devido à necessidade de implementar um plano de contingência para garantir o abastecimento. A empresa ainda destaca que teve suas tarifas congeladas por três anos.

Por isso, tenta obter ressarcimento como compensação de prejuízos que teriam sido impostos pelo poder público. O valor poderia chegar a R$ 300 milhões, em uma estimativa otimista, conforme fontes a par do assunto, e o recurso poderia ajudar a quitar parte da dívida incluída na recuperação.

Já a construtora chegou a fazer obras de infraestrutura pesada, como de terminais portuários, aeroportos e rodovias - entre as quais o trecho Leste do Rodoanel. Também prestou serviços par várias concessionárias de rodovias paulistas. Em 2014, a Contern chegou a apresentar ao governo de São Paulo uma proposta considerada ambiciosa para construção de uma alternativa de ligação do Planalto à Baixa Santista, a partir do trecho Leste do Rodoanel. O empreendimento estava orçado em R$ 14 bilhões. O projeto recebeu o nome de ViaMar e nunca saiu do papel: a proposta foi arquivada por não apresentar "as soluções técnicas e econômicas", informou o governo.

O quadro deteriorado do grupo, como o próprio pedido de recuperação judicial descreve, inclui "dezenas de execuções, pedido de falência recaindo sobre uma das empresas, falta de crédito com credores, agentes públicos, fornecedores e clientes e diminuição de faturamento", tudo isso com manutenção das obrigações financeiras. "A conta simplesmente não fecha", informa o documento.

Como os compromissos envolvem uma série de garantias cruzadas, a decisão foi fazer um pedido envolvendo todas as dez empresas. A holding Heber Participações, por exemplo, é devedora solidária de cerca de R$ 3 bilhões de dívidas de outras empresas que entraram com o pedido, enquanto que a construtora é responsável solidária por outros R$ 2 bilhões.

Uma vez aceito o pedido, o grupo tem 60 dias para apresentar um plano de recuperação a ser apreciado pelos credores. O desenho financeiro da reestruturação ainda está sendo avaliado. Para assessorar esse processo, foram contratados o escritório de advocacia Thomaz Bastos, Waisberg, Kurzweil e a firma de consultoria Galeazzi & Associados. A expectativa, por ora, é de que envolva alongamento de prazos de pagamento e possivelmente venda de ativos.

 

Autor(a)
Victória Mantoan e Fernanda Pires

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