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Bilionário vence leilão de falência da Sears

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Edward Lampert, gestor de fundos de hedge, superou o lance da Abacus Advisory que previa fechar todas as lojas da Sears e vender o inventário.

O bilionário Edward Lampert venceu o leilão de falência da Sears Holdings, evitando que a rede de lojas de departamento tenha de fechar todas as lojas que ainda tem, segundo fontes familiarizadas com o assunto.

Lampert, um gestor de fundos de hedge que levou a Sears à falência, conseguiu a vitória ao melhorar sua oferta de US$ 4,4 bilhões para cerca de US$ 5,3 bilhões, ao longo de várias semanas de negociações com a diretoria da Sears e os credores, disseram as fontes.

Seu último plano de recuperação manteria cerca de 400 lojas abertas. A oferta superou o lance - que tinha o apoio da maioria dos credores e proprietários da Sears - da Abacus Advisory Group LLC, que previa fechar todas as lojas e vender o inventário. A Reuters informou, ontem pela manhã, que a proposta de Lampert tinha prevalecido.

 

O plano para recuperar a rede de 400 lojas ainda precisa ser aprovado pelo juiz da falência em fevereiro

Maior credor e maior acionista da Sears, Lampert tem lutado para manter o controle da empresa desde que a companhia pediu proteção judicial contra credores, em outubro. Ele deixou o posto de CEO na época, mas continuou como seu presidente.

O plano de recuperação precisa ser aprovado pelo juiz de falências em uma audiência de venda marcada para 1º de fevereiro em White Plains, Nova York. Segundo uma fonte, o juiz Robert Drain, que está acompanhando o caso, tinha pressionado Lampert a chegar a um acordo para manter algumas lojas abertas e salvar milhares de empregos. A fonte acrescentou que alguns credores ainda são contra os planos de Lampert e preferem a liquidação total da Sears.

Com mais de US$ 7 bilhões em ativos (quando entrou com pedido de recuperação judicial em outubro), a Sears é uma das maiores em uma série de bancarrotas recentes no varejo americano. A empresa, que também comanda a cadeia de supermercados Kmart, já fechou cerca de 200 do total aproximado de 700 lojas que tinha quando pediu concordata.

O acordo, fechado nas primeiras horas da manhã de ontem, encerrou um dia tenso de negociações. Segundo fontes, às 11 horas da noite de terça-feira, a oferta de Lampert parecia ter morrido.

Os dois lados, amontoados em salas de conferência vizinhas no escritório de advocacia Weil, Gotshal & Manges, em Nova York, continuaram negociando até cerca de 2 horas da manhã de quarta-feira, quando Lampert elevou sua oferta em US$ 150 milhões, fechando o negócio, disseram fontes.

Um dos pontos que complicavam as negociações era que a Sears continua a queimar caixa, gastar dinheiro, em ritmo acelerado, segundo uma das fontes.

O acordo livra Lampert e outros de responsabilidade em futuros processos judiciais relativos a uma série de filiais que os credores dizem que podem ter desviado ativos valiosos para fora da empresa, segundo essas fontes. Lampert tem negado essas acusações repetidamente.

O acordo também inclui um perdão de dívidas de cerca de US$ 1,3 bilhão do fundo de hedge de Lampert, o ESL Investments, o que provocou mais objeções dos credores.

A Sears, com 126 anos de existência, já foi a cadeia de varejo dominante nos Estados Unidos. Mas ela emergirá da falência como uma sombra do que já foi, dificultando sua competição com cadeias mais saudáveis com milhares de lojas - tais como Walmart e Home Depot -, assim como com a onipresente Amazon.

"Eu não sei o que sobrou para comprar lá", disse o consultor aposentado Patrick Garrett, de 70 anos. Desde que a loja da Sears perto de sua casa, em Calabasas (Califórnia), fechou, em novembro, ele procura ferramentas na Lowe's, eletrodomésticos e aparelhos na Best Buy e roupas na J.C. Penney. "Eu teria que dirigir por mais de 64 quilômetros para chegar à Sears mais próxima", contou.

O varejo se transformou num jogo de escala para cobrir os custos fixos de operar lojas físicas, armazéns, lojas na internet e uma cadeia de fornecimento que una tudo isso. A Sears, em contraste, está encolhendo faz anos, fechando lojas e eliminando negócios e marcas, incluindo a Land's End, de roupas, e a Craftsman, de ferramentas.

No seu pico, em 2006, um ano depois de Lampert assumir o controle com a fusão da Kmart e da Sears, a empresa operava mais de 2.300 lojas. Em outubro, ela entrou em concordata com menos de 700 e somava sete anos de perdas. As vendas anuais tinham mirrado para US$ 16,7 bilhões, de US$ 49 bilhões em 2005.

Na época da fusão com a Kmart, Lampert era uma das estrelas de Wall Street e era frequentemente comparado com o lendário investidor Warren Buffett. A queda da Sears não prejudicou apenas a reputação da empresa, mas a de Lampert também.

Agora ele tem o que poderia ser sua última chance de provar que sua estratégia é a correta. Ele argumenta faz tempo que, conforme o varejo se torna on-line, as cadeias precisam de menos lojas físicas de grande porte. Seu mantra para a Sears é transformá-la numa empresa "light", com poucos ativos.

No entanto, há poucos precedentes de grandes varejistas que prosperaram encolhendo suas redes. Uma das poucas exceções é a Federated Department Stores, que entrou em concordata em 1990 como parte da Campeau Corp, emergiu e avançou até engolir as rivais e tornar-se a atual Macy's.

"A Sears até agora está abaixo da massa crítica", disse Steve Dennis, consultor e ex-executivo da Sears que deixou a empresa antes de que Lampert assumisse o controle. "Como é que a ideia de ter menos lojas - o que não permite gastar tanto com marketing ou ter cadeias de fornecimento eficientes - de repente se torna uma estratégia de sucesso?"

Nos últimos anos, cadeias como Toys 'R' Us, Sports Authority, Bon-Ton Stores e RadioShack desapareceram depois de pedir concordata. Outras, como Mattress Firm e Payless ShoeSource, ressurgiram da bancarrota depois de eliminar dívidas e fechar centenas de lojas.

Lampert também está comprando as marcas Kenmore e DieHard, os centros automotivos da Sears e seu negócio de serviços domésticos, junto com o inventário, a propriedade intelectual e outros ativos. O plano de recuperação prevê salvar até 50 mil empregos.

"O plano de negócios que propomos contempla iniciativas estratégicas significativas e investimentos em uma rede ajustada de grande formato e pequenas lojas de varejo, ativos digitais e negócios operacionais interdependentes", escreveu Lampert em uma carta de 28 de dezembro para os consultores financeiros da Sears. "Acreditamos que nossa estratégia vai permitir à Sears prosperar num cenário integrado de consumo e varejo."

O gestor de fundo de hedge elevou sua oferta em US$ 600 milhões na semana passada, para cerca de US$ 5 bilhões. A oferta revisada não previa mais dinheiro, mas se comprometia a assumir responsabilidades que pudessem levar a varejista a fazer mais dívidas. Também incluía 57 imóveis extras, assim como contas a receber e inventário.

Nem todo mundo vê a Sears como uma causa perdida. Algumas de suas lojas sobreviventes estão em shopping centers saudáveis, e outras, localizadas em áreas rurais, enfrentam menos competição, pois suas rivais fecharam suas lojas ou encerraram suas operações. Mas analistas apontam que grandes mudanças são necessárias para tornar a Sears viável.

"Acreditamos que existe um caminho para que eles sobrevivam, mas eles precisarão se livrar da seção de vestuário e devotar toda a loja às mercadorias das linhas duras [produtos eletrônicos, por exemplo]", disse Craig Johnson, presidente da consultoria Customer Growth Partners. "A Sears ainda tem muita credibilidade em eletrodomésticos, e eles podem reconstruir esse negócio."

Ex-executivos dizem que a ideia foi considerada anos atrás, mas julgada impraticável, porque os consumidores adquirem mercadorias de valor mais alto, como eletrodomésticos, esporadicamente. Esse modelo também dependeria da capacidade da Sears de reduzir o tamanho de suas lojas, algo que ela vem tentando fazer com o aluguel de seus espaços extras para mercearias e cadeias de varejo concorrentes.

Um modelo para o futuro da empresa poderia estar em uma loja reformulada em Oak Brook (Illinois) que abriu em outubro. Com pouco menos de 5 mil metros quadrados, ele tem cerca de um terço de seu tamanho original. A loja reduzida não mais vende eletrônicos ou joias, embora a maioria das demais categorias de produtos esteja disponível.

Talvez o maior obstáculo para a Sears seja o próprio Lampert. Embora ele tenha despejado dinheiro na empresa por meio de empréstimos de curto prazo e dito que tentara de tudo para mantê-la em atividade, sua abordagem - incluindo a reticência em modernizar lojas sem a promessa de um retorno para esse investimento - se mostrou desastrosa.

"Qualquer modelo que envolva o Eddie não vai funcionar", disse Johnson.
 

No Brasil

A Sears Roebuck and Company, sediada em Chicago, chegou a ser a maior varejista dos Estados Unidos, mas acabou sendo ultrapassada pelo Walmart, que é a maior varejista do mundo. A Sears abriu as portas no Brasil em 1949. Disputava o mercado com as rivais Mappin e Mesbla, que também vendiam roupas, calçados, produtos de beleza e eletrodomésticos. Em 1983, a operação da Sears, que somava 11 lojas, foi vendida para a joint venture entre o empresário Paulo Malzoni e a holandesa Vendex. A marca Sears acabou desaparecendo do varejo brasileiro no início dos anos 1990, quando a Vendex decidiu vender as lojas ao Mappin e para shopping centers. Mappin e Mesbla também não resistiram e o modelo de loja de departamentos, em sua forma clássica, foi abandonado pelo varejo brasileiro. Há cerca de oito anos, a Sears ensaiou um retorno ao Brasil, por meio de um sistema de franquias. O projeto, porém, não foi adiante.

(Colaborou Patrick Fitzgerald) (Tradução de Lilian Carmona)

 

17/01/2019 

Autor(a)
Por Suzanne Kapner, Lillian Rizzo e Soma Biswas

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