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Mercado de crédito segue o compasso da recessão

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Ao revisar as projeções para o crédito neste ano, o Banco Central (BC) recentemente avaliou que o mercado desacelerou sem maiores percalços e encontrou um piso, em ambiente de baixa inadimplência, que permitirá uma retomada em bases saudáveis, quando a economia se recuperar. A análise benigna é claramente baseada nos resultados médios do mercado. Quando o desempenho do crédito é examinado com mais profundidade, porém, os números sugerem, no mínimo, cautela.

Depois de seguidas reduções, o BC manteve a previsão de que o crédito vai crescer 9% neste ano. Como a expansão acumulada em 12 meses até agosto está em 9,4%, isso significa alguma desaceleração pela frente, contrariando a tendência normal de fim de ano. Embute também um recuo em comparação com os 11,3% de 2014 e praticamente um empate com a inflação projetada em 9,5%. Levando em conta que a taxa média do crédito está em 29% ao ano, a variação do estoque das operações não irá repor a inflação nem o juro apropriado neste ano, o que significa redução em termos reais.

Há outros sinais preocupantes. As concessões de recursos livres, que refletem efetivamente a disposição dos bancos em fornecer dinheiro novo, já mostram queda. Nas operações com empresas, as concessões caíram 5,25 em agosto, 1,6% no acumulado neste ano e 1,9% em 12 meses. No caso das operações com pessoas físicas, embora tenham diminuído 2,5% em agosto, crescem 3,2% no ano e 5,6% no acumulado em 12 meses.

A inadimplência é considerada baixa pelo Banco Central. De fato, a média está estacionada ao redor de 3% há alguns meses. No entanto, excluindo as operações com recursos direcionados, geralmente com taxas baixas e até negativas em algumas linhas do BNDES e de prazos longos, o número é maior. Nas operações com recursos livres realizadas com empresas, atingiu o recorde da série histórica de 4,1%; e chega 5,4% com pessoas físicas. Mas o quadro pode ser bem pior quando se olha a situação nas linhas de crédito mais caras, como a do rotativo do cartão de crédito, que custava 403,5% ao ano em agosto e ostentava a inadimplência de 37,6%. No cheque especial, cujo juro está no pico recorde de duas décadas de 253,2% ao ano, a inadimplência chegou a 13,8%.

Entre as pessoas físicas, a demanda por crédito concentra-se nas linhas direcionadas ao consumo pessoal como cartão de crédito e consignado, ficando de lado o interesse pelo financiamento de aquisição de automóveis e outros bens, que lideravam em anos passados. Também surpreende a demanda pela renegociação de créditos, que mascara a fragilidade do mercado. O estoque de créditos renegociados cresceu 10,9% neste ano para R$ 24,4 bilhões, ficando atrás somente do cartão de crédito e do crédito pessoal. Até uma das linhas consideradas mais seguras pelos bancos, a do consignado de funcionários públicos, entrou no radar das preocupações com as dificuldades de Estados, municípios e empresas públicas de ficar em dia com seus compromissos diante da queda da arrecadação.

Levantamento da Serasa Experian englobando não só as dívidas das pessoas físicas com os bancos, mas também com o crédito obtido em lojas e financeiras, e as contas de serviços públicos como água, energia e telefonia, registra o aumento de 16,7% da inadimplência de janeiro a agosto deste ano em comparação com igual período de 2014. Entre as empresas a situação não é melhor. Os pedidos de recuperação judicial aumentaram entre 29% e 39% neste ano, conforme o porte da empresa, atingindo 1.250 casos, de acordo com o Instituto Nacional de Recuperação Empresarial (INRE). No levantamento da Boa Vista SCPC, o aumento dos pedidos de recuperação judicial foi de 40% para 800 casos neste ano; e o de falências está em 14,2%, com a previsão de que o número será o maior em 10 anos ("O Estado de S. Paulo", 26 de setembro).

Deixando, portanto, de lado as médias, o cenário do mercado de crédito requer atenção redobrada do Banco Central e prudência das instituições financeiras - precauções adequadas em um ano de desaceleração da atividade econômica e de alta dos juros, ensombrecido ainda pelo aumento do desemprego, crescente pessimismo do consumidor e, mais recentemente, pela forte desvalorização cambial, que colocou mais pressão nos balanços das empresas. As previsões para o Produto Interno Bruto não param de encolher, enquanto que o desemprego aumenta a cada mês. 

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